quinta-feira, 17 de julho de 2014

A IDOLATRIA É MAIS PERIGOSA DO QUE O ATEÍSMO!

Compartilho o um trecho do livro Força Ética e Espiritual da Teologia da Libertação no Contexto Atual da Globalização (pp. 71/72) do teólogo Pablo Richard e sua sagaz observação sobre a idolatria ser mais perigosa para a fé cristã do que o ateísmo.

"A tese fundamental pode ser resumida assim: o problema que desafia a fé dos cristãos não é o ateísmo, mas a idolatria. O problema não é a negação da existência de Deus, mas a perversão do sentido de Deus ou sua substituição por outros deuses. A pergunta não é: "Eu creio ou não em Deus?", mas "Em qual Deus eu creio?". A idolatria está intrinsecamente relacionada com a opressão (pessoal ou estrutural). Quando o sujeito opressor se identifica com Deus e oprime os demais em nome dele, então pode oprimir ilimitadamente e com consciência tranquila. Essa é a idolatria como perversão. A outra idolatria por substituição acontece quando se substitui Deus por outros deuses. Em ambos os casos, o sujeito humano transforma-se em objeto e os objetos, em sujeitos divinos. O sujeito divino é o ídolo (imagem pervertida de Deus ou substituição de Deus por outros deuses), e seus adoradores são seus objetos. A idolatria, portanto, é política e espiritualmente perigosa. É a raiz do pecado social e sua explicação última. Por isso, a tarefa teológica é menos demonstrar a existência de Deus e mais esclarecer onde ele está, como é e em qual Deus cremos. Os ídolos são sempre ídolos de morte; o Deus verdadeiro é o Deus da vida. Nesse tempo utilizamos muito a frase de santo Irineu: "Gloria Dei vivens homo; gloria autem hominis visio Dei"( a glória de Deus é o ser humano vivo; a glória do ser humano é a visão de Deus). A glória do ídolo, ao contrário, revela-se na morte do ser humano e na consciência tranquila do assassino. esses pensamentos teológicos tiveram sua repercussão política, pois, anteriormente, sempre se viu no "ateísmo" das "esquerdas" o grande inimigo da fé. Agora fica evidente que o inimigo da fé não era o ateísmo, mas a perversão idóltra do sistema opressor. O perigo para a Igreja não era o ateísmo dos militantes revolucionários, mas a corrupção religiosa e ética das classes dominantes"



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